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ão dá para jogar 177 anos pela janela.” É assim
que Francesca Amfitheatrof, primeira mu-
lher a assumir a direção de design da Tiffany
& Co., fala sobre a tarefa de soprar vida nova
e simultaneamente manter o espírito de uma
das grifes mais conhecidas do mundo.
As características minimalistas das joias da Tiffany T, sua pri-
meira coleçãopara amarca, sãopistas para o caminhoque ela pre-
tende trilhar. A ideia é que as peças – feitas de ouro, prata, titânio
e diamantes – possamser desmembradas, empilhadas e combina-
das entre si e comqualquer outra coisa. “Até comminhas pulseiri-
nhas depraia”, demonstra adiretora, sacudindoos pulsos.
Apesar de acreditar no poder das grandes joias, Francesca
aposta em criações significativas para quem as usa. “O que
importa não é a aparência de riqueza, mas o estilo, a facilidade
e o conforto. As joias são uma decisão estética sobre algo que
combina com você”, explica, e emenda: “Há tanta coisa dis-
ponível atualmente que fazer aquele esforço extra, como ter
certeza que a pulseira não incomoda, é algo necessário. Co-
piar a corrente com fechomodular que criamos, por exemplo,
será um pesadelo. É com esse tipo de abordagem pessoal que
a Tiffany irá se diferenciar da concorrência.”
Você nasceu no Japão, cresceu na Itália, nos Estados Uni-
dos, na União Soviética, na Inglaterra...
Como desenvolveu
seu critério estético? Sempre houve um grande senso de beleza
e de refinamento na minha vida, mas demorei um pouco. Não
se acha umestilo ou vocabulário imediatamente, mas quando o
encontrei, passei a saber oque combina eoque fala comigo.
Você é ourives por formação. Como é o conceito de “a
engenharia de uma joia”?
Pense em quando você observa
Por dentro da
CAIXAAZUL
Pioneira no posto, Francesca Amfitheatrof lança sua primeira coleção
como diretora de design da Tiffany & Co. e promete inovar  POR Ana Pinho
“N
FOTO
DIVULGAÇÃO
um prédio. Pensa na parte de trás ou em como é por dentro?
Quando crio uma peça, faço isso: imagino o seu interior, a sua
mecânica. Quero que seja algo perfeito e sememendas.
Há semelhanças entre a curadoria de arte e o seu trabalho
atual?
Sim. Quando você expõe uma grande obra, precisa re-
presentarbemoartistaeotrabalho. Precisa ter respeito, conhe-
cimento, saber iluminar corretamente. Exerço essa experiência
quando explico como as joias devemser expostas ou quando es-
toucomos artesãos daTiffany, que respeitoenormemente.
Como utiliza os arquivos da marca?
Eles são incríveis,
gigantescos. São centenas de milhares de joias, tampos de
mesa, vidros, cerâmicas, relógios. Sempre que inicio umpro-
jeto, trabalho com os arquivistas, que me inspiram com es-
ses tesouros. E mesmo que não acabe sendo uma referência
direta, é algo que absorvo. Acabo precisando editar minhas
referências, porque são muitas!
Como vê a relação entre joias e moda hoje, dentro do con-
texto de fast fashion?
Quando se fala de metais preciosos, a
situação é outra. Você sabe que aquilo vai durar mais que você.
Quando compra uma joia, ela primeiro se torna parte de você, e
depois de outra pessoa. Você não vai passar um par de sapatos
para sua sobrinha,mas uma joia, sim. Éuma relaçãodiferente.
Qual legado gostaria de deixar para a Tiffany & Co.?
Digo que quero que meu legado seja refletido por bracele-
tes e pulseiras porque amo desenhá-los, mas amaria ver a
Tiffany como a casa americana de design mais relevante do
mundo. É algo que ela sempre foi, e que certamente pode
continuar a ser no futuro.